Para Sempre te lembraremos, nossa eterna 1ª Dama.
“Márcia Regina de Andrade Prado, 40, massagista, ciclista, primeira dama das rodas fixas paulistanas, minha amiga, mais uma vítima da imbecilidade humana. Nunca vi ela de mal humor, nunca vi ela sendo grossa com alguém, sempre uma presença tranquila e bem vinda. Descanse em paz.” Sílvio
SoroTRIP - Foto CANNA
“Tudo começou quando comprei uma monark 10. O Canna, em minha homenagem, deu a ela o nome de Monárcia. Ela estava toda zoada, detonada mesmo. Tinha rodas, mas carcomidas por ferrugem, a pintura estava nojenta, enfim um lixo. Comecei a ver como fazer para pintar e comprar as peças. A coisa foi demorando e resolvi partir para um plano B, que consistia em comprar uma bike em melhores condições. Achei uma caloi 10 bastante boa, mas não consegui ajustar meus horários com os do proprietário, e uns 10 dias depois parti para uma caloi sprint 10.
A Monárcia foi pro Canna, a caloi 10 pra pqp e a sprint (ainda) 10 – em futuro batismo, Mona – fui buscar em Guarulhos, na minha primeira viagem àquela cidade. De metrô e ônibus. Confiando nas fotos e nas palavras do vendedor, decidi que voltaria pedalando uma bike desconhecida. Como o endereço ficava perto da Ayrton Senna, em poucos metros eu estava no acostamento de uma rodovia. Sentindo que o banco precisava estar mais alto. Que os freios poderiam estar melhores (mas, afinal, era uma sprint) e que era bom me acostumar logo àquela postura completamente diferente do habitual. Entrei na marginal e novamente as origens loiras atacaram, confundi a entrada para a marginal da marginal e de repente eu estava na pista expressa da marginal tietê!! Acho que os motoristas ficaram tão surpresos que ninguém passou perto de mim, então achei bom e segui um bom trecho por alí mesmo… Essa foi a segunda aventura – considerando a primeira ter a bike inteira e funcionando.
Cheguei em casa sã e salva, e à noite Canna e JuM apareceram para a transformação… que não aconteceu. A marreta de precisão não foi páreo para a catraca, então “apenas” depenamos a bike e no dia seguinte fui convencer meu bicicleteiro a montar uma fixa. Não sem antes ficar um tempão passando uma massa que ganhei do Canna para que as marcas do tempo fossem suavizadas. Algo como, segundo a JuM, uma exfoliação. Vários machucados nas mãos depois, a bike estava rejuvenescida.
O bicicleteiro precisou de 24hs para tomar coragem e sábado de manhã eu já estava lá pressionando o cara pra poder ter uma diversão fixa no finde. Às 13:00hs a bike estava pronta, de pneus novos (os antigos estavam péssimos) e eu ainda dei mais trabalho para ele pq comprei a fita anti-furo e claro que queria que ele colocasse.
Mas tive que trabalhar e não pude usar a bike no sábado, coisa que só aconteceu hj, domingo. Foram 2 rolês:
O primeiro, uns 50 minutos pedalando (no intervalo da garoa). Algumas considerações:
1- preciso de um canote maior
2- o selim continua empinando, apesar de todos os apertos. Preciso de outro carrinho, é isso?
3- o pedal esquerdo dá um soquinho num ponto da volta. É o pedal, não é o pedivela. Isso é questão de aperto ou terei que trocar os incríveis pedais de berlineta que acompanham a sprint?
4- a relação é pesada, mas menos do que achei. Até consegui encarar umas subidas, claro que não muito grandes nem tãoooo inclinadas. Mas preciso ajustar a altura do banco para não destruir meus joelhos.
5- Acho que talvez quem sabe esteja começando a pegar o jeito de reduzir a velocidade dela. Na verdade nesse rolê estava preocupada basicamente em parar, que é meu grande medo nessa bike. Para quem conhece minha casa, consegui encarar a descida até meu portão segurando a velocidade no pedal, só brequei na porta. Mas… DÓI!!! E claro que estou longe daquelas brecadas destroem pneus, só reduzo a velocidade, e ainda assim porque a velocidade anterior não era tanta. Mas é um começo, né?
O segundo, agora à noite. Nesse eu estava um pouco mais adaptada à bike, continuando mais preocupada com como segurá-la que com velocidade ou malabarismos (esses tentarei na garagem, escondida de todos. Chega de tombos públicos). Impressões:
– De fato não peguei nenhuma subida bicuda, mas fiquei espantada de encarar várias subidinhas pelo caminho e superar todas. Decidi que não quero mexer na relação nesse momento;
– Tive um momento de susto grande quando resolvi correr num trechinho. Perdi o controle dos pedais e fiquei com as pernas no ar esperando reduzir a velocidade para conseguir “achar” os pedais novamente. Achei que ia me arrebentar no chão. Mas foi bom porque então resolvi que tinha que treinar pedalar, e não só tentar parar. Sim, sei que o firma-pé serve exatamente para esses momentos…
– O soquinho no pedal esquerdo aumentou. Agora são 2 socos, em momentos distintos. E agora tenho um nheco-nheco no pedivela. Aquela história de bike silenciosa foi pro saco. Visita ao mestre bicicleteiro amanhã…
– Dores: nas mãos, em alguns lugares nas costas, na bunda e um pouco nas coxas.(…)
Acho que é isso.
E a minha fixa é a mais linda de todas, porque é minha!!!! hehehe
Márcia
PS: e agora temos um bicicleteiro que monta fixas!”
Ela também assinou o Manifesto dos Invisíveis – leia um trecho que destacamos:
“(…) clamamos por respeito. Às leis de trânsito, à vida. As ruas são públicas e devem ser compartilhadas entre todos os veículos, como manda a lei e reza o bom senso. Porém, muitas pessoas não se arriscam a pedalar por medo da atitude violenta de alguns motoristas. (…)
Preferimos crer que podemos fazer nossa cidade mais humana, do que acreditar que a solução dos nossos problemas é alimentar a segregação com ciclovias. Existem alternativas mais rápidas e soluções que serão benéficas a todos, se pudermos nos unir para construi-las juntos.”
compartilho com vocês um dos últimos emails, que Márcia enviou para os apreciadores das FIXAS , aqui em SAMPA:
Segue enfim a foto da Mona, diretamente da praça mutante.
Agradecimentos especiais ao sr. Libélula, sempre ágil e eficiente!
Não se decepcionem, essa não é uma superprodução Cannonica… Segue a linha básico-que-some-na-multidão-e-pode-ser-parado-em-qquer-lugar-sem-medo.
Márcia”
……
Aqui um relato do LUTO, escrito pelo Mestre CANNA:
“Tá difícil de acreditar.
A gente no dia-a-dia, se acostuma com o risco de andar de bicicleta em SP, de viver nesta merda. Eu acreditava que era possível usar este meio de transporte, mas isso que aconteceu com a Márcia não vai me deixar pedalar tranquilo. Eu não consigo.
Puta que pariu, só Deus sabe porque coisas assim acontecem e peço a Ele que proteja os nossos caminhos, peço que vocês se cuidem no trânsito, pensem que qualquer dia pode ser o último passeio, a última bicicletada, a última vez que vc vê seu pai, sua mãe. Por quê tem que ser assim, POR QUÊ?
Eu perdi uma amiga, um nova amiga e de verdade…é difícil ver uma mensagem na sua caixa de emails de alguém que não está mais aqui!
Sei que é um momento de emoção mas, senti o quanto vocês da bicicletada, que às vezes vejo uma vês por mês e olhe lá, são importantes para mim.
Só consigo pensar na manhã do dia 1º de Janeiro,no nosso encontro ciclístico no centro em que vimos aquele raiar de dia lindo, no topo do prédio. Voltei com ela até o Ipiranga, pedalando pela Avenida Paulista que seria onde ela pedalaria seus últimos metros neste mundo.
Eu não tô legal não. Tô muito confuso e preciso pensar no que realmente importa na vida…isso não foi justo, mas quem sabe de nosso destino é algo superior que não erra – e temos que nos amparar nisso para seguir a vida.
Tchau moça do capacete vermelho.
Canna”
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Outras Homenagens:
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Adeus Amiga!
Márcia Regina de Andrade Prado ( 17/11/1968 – 14/01/2009)
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Homenagem à ciclista Márcia Prado:
QUINTA (15/01), às 18h, na Praça d@ Ciclista
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Bicicletada da Memória: Márcia Prado
SEXTA (16/01), às 18h, na Praça d@ Ciclista
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O N E L E S S G E A R